Translate

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A maioridade do FORA PT!

Carlos U Pozzobon

As manifestações que consolidaram a oposição nas ruas, e que haverão de levar milhares ao 15 de novembro de 2014, não foram capazes de sensibilizar a imprensa desde o seu nascedouro, mas, passando como um rolo compressor sobre a indiferença cúmplice de órgãos falaciosamente zelosos na defesa da opinião pública, conseguiram surpreender as avestruzes da mídia depois da explosão atômica das redes sociais na campanha de Aécio Neves.

Agora, finalmente, a mídia descobriu o ovo de Colombo: uma manifestação de rua reúne tanta gente heterogênea que para ser representativa de uma corrente de opinião, são necessários carros de som carregando voluntários bradando palavras de ordem, e não mais centenas de cartazes pedindo o JULGAMENTO DO MENSALÃO, ou associando a CORRUPÇÃO com o PT, como se via desde 2010.

Para Augusto Nunes “os envolvidos nos protestos de 2011 nunca souberam direito quem eram e o que queriam. Como voltaria a acontecer em junho de 2013, os manifestantes sucumbiram à crise de identidade, à inexistência de objetivos claramente definidos, à falta de palavras-de-ordem que evitassem a dispersão”. [http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/ao-contrario-dos-manifestantes-de-2011-os-indignados-que-voltarao-as-ruas-em-15-de-novembro-sabem-quem-sao-e-o-que-querem/].

Esta análise mostra um erro comum da imprensa, mesmo quando bem intencionada. Ora, os envolvidos em 2011 sabiam sim o que queriam. Queriam o julgamento do mensalão. E não estavam sós; nunca estarão sós. As ruas têm a propriedade de atrair os mais disparatados grupos em qualquer lugar do mundo, quando não convocados por um partido. Há gente que vai protestar contra os salários dos aposentados, contra o atendimento nos hospitais e postos de saúde, contra maltratos a animais, e até pela liberação da maconha. Eu mesmo participei de manifestações cuja adesão crescia a olhos vistos, oscilando misteriosamente e, numa delas, em que calculei 8000 pessoas, vi Augusto Nunes aparecendo na cola da massa que descia a Av. Consolação em direção ao centro de São Paulo. Estava duas horas atrasado. Nada apareceu na Veja porque foi interpretada como heterogênea demais para ter um significado político preciso. Mas o pessoal de 2011 era o mesmo de 2014. Quem mudou foi a imprensa, não os manifestantes!!!

Como começar um movimento sem ser heterogêneo? As pessoas mais instruídas, que conhecem a marcha economicida do populismo, sabem que um bando de baderneiros não vai ficar indefinidamente nas manchetes dos jornais, apenas porque seus atos, não sendo pacíficos, podem dar o brilho pirotécnico de que precisam os telejornais para atrair telespectadores. Os embrutecidos pela inflação e pela escassez vão dar as caras nas ruas em qualquer governo bolivariano, mais cedo ou mais tarde. Basta esperar.

Na verdade, nunca teremos conhecimento total das motivações das pessoas em uma passeata GENÉRICA. Se 10 em 100 manifestantes carregarem cartazes contra a corrupção e ninguém mais carregar nenhum cartaz diferente, dizemos, genericamente, que as 100 pessoas marchavam contra a corrupção. Entretanto, quando examinamos detalhadamente, vemos que não é bem assim. No limite, pode ser que apenas 10 pessoas estejam marchando contra a corrupção e as outras 90 divididas entre diversas causas.

Em junho de 2013 participei de cinco manifestações, o que me permitiu uma análise dos presentes dividindo-os em 3 grupos: 1) os que ainda apoiavam o governo do PT; 2) os que o haviam apoiado no passado e; 3) os que nunca o apoiaram. Meu foco era, naturalmente, o grupo 2, pois ali é que estava ocorrendo o fermento da transvaloração, a mudança qualitativa no processo político que de fato veio crescendo e se manifestou no resultado eleitoral. Chamei diversas vezes a atenção para este fenômeno. Mas, os jornalistas de rua ─ em geral engajados ao PT ─ dão o tom das mentiras que terminam circulando nos jornais do dia seguinte, enquanto os respeitáveis comentaristas que não levantam do sofá, caracterizavam as manifestações como atípicas, incoerentes, incompreensíveis, e até mesmo, acreditem, de esquerda contra o governo de esquerda! Naquela data, a juventude gritava “o povo acordou”. Um ano depois estava gritando “fora PT”. Não era outra gente. Era a mesma gente que amanhã estará nas ruas ainda mais indignada contra as consequências da inflação, e que hoje ainda abriga amigos e parentes que se resguardam na crença de um Papai Noel onipotente chamado governo.

O resultado é que, em 2014, aquela heterogeneidade se converteu em homogeneidade com o propósito de eleger Aécio Neves. E a sua vitória só não foi avassaladora pela estratégia fraudulenta de contenção utilizada pelos institutos de pesquisa, colocando a candidatura de oposição na irrelevância das pesquisas eleitorais para manter o povo desmotivado nos meses que antecederam a eleição. Se essa estratégia não tivesse funcionado, e a onda de 2013 se repetisse ainda em agosto, São Paulo teria arrastado o resto do país com apenas mais 3 semanas de mobilizações, e o resultado eleitoral seria outro. Não houve o levante do resto do país como ocorreu em 2013 por falta de timing e também por incompreensão do PSDB de aliar seus comícios à estratégia eleitoral, em lugar de carreatas e passeios públicos do candidato no pós-copa.

Os indignados de 2014 são os mesmos de 2013, com a diferença de que os grupos radicais de esquerda que estavam misturados e assumiram o protagonismo no final dos protestos, em plena dispersão da massa ordeira, ameaçando jornalistas, quebrando câmeras de cinegrafistas e incendiando os carros de emissoras de TV, foram discriminados e rejeitados pelos manifestantes. Por causa disso, tornaram-se os vilões do movimento. Não foram poucos os jornalistas de sofá que se escandalizaram com a contradição de milhares (chegaram a 13 milhões em todo o país) de pessoas nas ruas e o foco não ser o descontentamento popular com o governo, porém as demonstrações acintosas dos black blocs. A imprensa sequer observou fatos relevantes acontecendo em meio a movimentação: a tentativa de grupos sindicalistas (considerados os senhores das ruas) de ganhar espaço com as bandeiras do PT em punho, para transformar a manifestação a favor do governo, o que resultou em revolta espontânea, apreensão e queima das bandeiras, além de expulsão do grupo, como aconteceu na av. Paulista. Se isto ocorreu em um setor localizado da manifestação, o que se pode dizer da generalização da massa que lá se encontrava? Esta demonstração evidente do espírito da massa, não foi o suficiente para a imprensa perceber que um contingente considerável estava contra o governo. Foi tratada como massa ignara ou fenômeno atípico, inqualificável ou manipulado pela esquerda, quando era, na verdade, o princípio do que hoje está cristalizado como o FORA PT.

Como poderia ser diferente? Poderíamos esperar que partidos políticos que não fazem demonstração de rua, que não mantém uma militância paga e organizada, pudessem estar no comando de uma manifestação, quando os políticos morrem de medo de aparecer no meio de uma massa desconhecida? Aqueles que perseveraram nos protestos contra o governo hoje podem se sentir vitoriosos. Mas não se enganem senhores jornalistas: os arruaceiros vão voltar e com uma carga de violência ainda maior. Eles detestam competir com o povo pacífico e ordeiro. Eles detestam ver a multidão bradando contra o governo. Eles precisam do domínio das ruas para impor sua agenda estapafúrdia e confirmar a popularidade do governo que lhes serve com o bolso. Eles vão cometer as ações que fazem sucesso nas fotos e manchetes. Mas eles não são o povo, não são os manifestantes, não são o espírito da nação, e só quem é estúpido ou mercenário pode atribuir-lhes créditos.

Nós que queríamos o julgamento do mensalão naquela época, fomos recompensados parcialmente. Agora estaremos nas ruas, queiram ou não queiram os jornalistas (aceitem ou não o erro de achar que o povo mudou, quando o que mudou foi apenas o desenrolar do tempo em uma direção, este mistério que a imprensa não é capaz de perceber), pois temos a certeza de estar com a verdade, e que nossa campanha vai representar a dignidade dos brasileiros contra o estado institucional do país. Podem nos avacalhar, silenciar, insultar. Responderemos com a longanimidade que faz com que a nossa causa já brote com a força vertiginosa do IMPEACHMENT JÁ, porque sabemos que a presidente tem responsabilidades sobre os crimes contra a Petrobras. E não nos importa a sopa de despistes da imprensa. Nos importa apenas a serena confiança de que somos a opinião pública e não a imprensa. Ela nos segue se quiser. Nós não nos subordinamos a ela.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentário livre, desde que pertinente ao assunto e decência vocabular.